quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Terra Morta (pt1)

Foi o por do Sol mais lindo, já visto em Lavanda, Pequena e Fria Cidade localizado em uma ilha no Sudoeste argentino, o Sol parecia ter pressa ao mesmo tempo que não poupava beleza ao se despedir da ilha, como um filho de se despede de casa no dia do casamento. Era um presente a ser lembrado, como se o céu soubesse toda dor que estava por vir.
Era o ultimo dia de verão, e a noite que marcava o Solstício de inverno era esperada por muitos na ilha, pois celebravam o fim das colheitas e o enchimento dos celeiros.
Os habitantes viviam apartados do continente, utilizavam alguns recursos lá buscados, mas se mantinham o mais distantes possível dele, sobreviviam em geral com o que colhiam e vendiam as sobras ao continente. Suas terras eram férteis e davam quase de tudo, mais especificamente o necessário. Era um povo bastante silencioso com hábitos discretos e sem religião aparente. No entanto dividiam tudo entre si , havia um grande celeiro no centro da cidade em frente a prefeitura que por sua vez se localizava ao lado da única e inutilizada delegacia, na praça central desse pacato lugar.
Alguns notaram como o Sol utilizou de uma beleza tétrica para se despedir naquele dia, mas estavam todos ocupados em celebrar o encher de seu celeiro central, que não questionaram tal fato. Quando o sol desapareceu completamente do céu e nem seus purpúreos resquícios eram mais vistos, ouviu-se o Sino da praça principal iniciando os festejos. Eram danças de roda, de par, músicas entoadas em variados rítimos que lembravam músicas do norte europeu em um medieval passado (herança dos que fundaram a cidade), comidas em abundância, mas nenhum sinal de devoção ou inclinação religiosa. Era uma festa para celebrar o fruto do trabalho humano, o resultado de um longo período de esforço coletivo.
Tudo corria muito bem como era de tradição em Lavanda, quando uma inesperada névoa toma toda a pequena cidade e suas construções em madeira pintada geralmente em branco ou verde. Esta névoa tornou-se mais densa em poucos minuto ao mesmo tempo que a música, as danças e a distração, se perdia pelo inesperado fenômeno. Logo avistaram Arthur o velho barqueiro da cidade se aproximando a passos tortuosos na alameda leste, ele resmungava palavras confusas que se confundiam ao som dos confusos comentários sobre a névoa. O Velho Arthur estava com seu costumeiro chapéu de abas largas e mantinha sua cabeça baixa e segurava em uma das mãos um artesanal candieiro e na outra uma enferrujada faca de médio porte, parou as portas abertas do celeiro sob a atenção de todos, e em um confuso ato de loucura, e lançou o candieiro porta a dentro.
O Silêncio do choque durou poucos segundo até os desesperados gritos de reprovação e repreensão alcançarem alturas alarmantes. Logo se lançaram contra o velho barqueiro, o primeiro foi do Glutão delegado de Lavanda Éliot Custodius. que segurou o braço de Arthur e recebeu um surpreendente golpe de faca em seu pulso, que separou sua mão de seu braço.
Gritos, palavrões, palavras de ordem, de tudo se ouviu nesse momento. Foi quando o barqueiro levantou sua cabeça e se deixou revelar um olhar sangrento, escoriações no rosto,e uma boca salivante como a de um cão raivoso. Inesperadamente o monstruoso velho apanhou a mão recém amputada de Éliot e a levou a boca, em um momento de uma profunda e mórbida satisfação.
Boom! Ouviu-se o primeiro tiro dado para o alto. Era o prefeito Bento em um desejo de retomar a ordem local, ao mesmo que o celeiro incendiava-se em grande velocidade, Arthur parecia um cão alimentando-se daquela mórbida mão aputada sobre o chão de lavanda, alheio ao fogo a poucos passos de distância dele. Foi quando Bento gritou para que todos corressem e buscassem água para tentar salvar o celeiro e seu mantimentos, e em seguida ordenou que o Barqueiro soltasse aquela mão, ou ele atiraria novamente, só que dessa vez tendo Arthur como alvo. O Barqueiro continuou como se não tivesse escutado, e enquanto os populares chegavam com baldes e vasos cheios de água, ele repetio mais três vezes sem resultado, e por fim atirou no peito do velho Arthur, que por sua vez recebeu um grande impácto, mas não caiu. Contudo largou aquele pedaço humano do qual parecia se alimentar, e empunhando sua faca, pôs se a andar com largos passos em direção ao prefeito, que desesperado começou a atirar para parar ataque enraivecido do barqueiro, quando sem sucesso se viu imóvel diante do mesmo... recebeu três facadas no peito, em seguida, já agonizante recebeu várias das famintas mordidas do monstruoso barqueiro e morreu... (Continua...)